As Cinco Provações representam as fraquezas
humanas mais perigosas, capazes de corromper a alma e entregar o fiel à Sombra.
As Cinco Provações não aparecem na Litania do Único. Elas foras escritas
originalmente por Ivárius, um
sacerdote que isolou-se do mundo por volta de 800 DA. Suas reflexões o levaram
a conhecer a si mesmo e assim pôde apontar e catalogar tudo aquilo que tornava
os homens perigosos para o mundo e para si mesmos. Ele estudou sobre a Era da
Vergonha nos raros tomos existentes em sua época e pôde constatar que boa parte
do que ele julgava pecaminoso era praticado abertamente pelos Selvagens e pelos
homens ainda sem direcionamento na Fé.
Sucumbir às Provações é o primeiro passo
rumo à perdição do espírito. É quando o homem abre as portas de seu coração
para a corrupção da Sombra Viva. A chave para o entendimento desta falha nos
homens está no Desejo. O desejo é relacionado a soberba, ao orgulho, mas é também
a marca deixada pelo próprio Criador quando depositou no homem a Centelha
Divina. É graças a esse Desejo, que queima e arde, que os homens de Belregard
são capazes de feitos incríveis, para o bem ou para o mal. O Desejo, por si só,
não é pecado, mas sim as consequências desse desejo sem controle.
O pecado pode possuir uma pessoa, habitando
seu corpo e comandando sua vontade. O Eleito Lázarus, que foi o mesmo a
oficializar os pecados quando tornou-se a liderança dentro do Tribunal,
idealizou cada um dos pecados como uma entidade à serviço da Sombra, chamadas
de Ímpios, vindos da Alcova Profana sempre que um homem de fé titubeava
em suas crenças e entregava-se a provação. Estando possuído por uma entidade
das Provações, a única maneira de estar livre novamente é passando por ritual
de exorcismo dirigido por um bispo ou cardeal.
A seguir veremos as Provações e a entidade
relacionada a cada uma delas. Uma forte arma dos sacerdotes, para fazer este
conceito de pecado ser entendido pela população, vem através dos exemplas, que
são verdadeiros exemplos mundanos de como uma pessoa se perder quando sucumbe a
uma provação. Sejam reais ou inventados, as histórias de pecadores do passado
estão sempre presentes nos sermões.
Como exemplo, seguem duas destas provações:
Gula
O pecado da gula é levado muito a sério
dentro do culto de Leoric. O maior presente do Criador para os homens foi seu
corpo perfeito, capaz de feitos incríveis desde que bem condicionado. O guloso
desdenha do presente de Deus, deformando a criação do Pai quando vivem para
comer e não comer para viver. A gula afasta o homem do caminho da retidão, um
pecado contra o próprio corpo. Comer em excesso também ofende aqueles que
praticam a mendicância, já que devorando com o apetite de muitos, o pecador
priva pessoas necessitadas de se alimentarem.
O guloso vive na sujeira, dentro e fora de
seu corpo. Ele é acompanhado por um coro perpétuo que segue seus passos, a
Orgia das Moscas, como Lázarus chamou. Chafurdando no próprio vício, incapaz de
tirar de sua mente a ideia do alimento, da libação, o faminto não se importa
com as moscas que rodopiam ao seu redor, banqueteando-se de seus restos e
depositando seus ovos da ceia fresca. Novamente esta prática era comumente
praticada nos tempos da Era da Vergonha, entre selvagens e hereges. E vale
ressaltar, a gula não se limita a comida, mas toda atividade de consumo que
seja praticada de forma desmedida e assim deve ser observada também na bebida e
nos demais vícios.
É por esta relação aos insetos que a figura
relacionada a gula atende pelo nome de Zaalzehub. Lázarus disse que ouviu este
nome ao pé do ouvido enquanto refletia sobre os pecados. Quando deu um tapa no
rosto, provocado pela irritação de algo pequeno, e pôde conferir que tratava-se
de uma mosca gorda e vermelha. O senhor das pestes, Zaalzehub, aguarda aqueles
inchados pela própria incapacidade num poço de podridão, à eterna cantoria da
Orgia das Moscas.
Ira
A ira é um dos pecados mais perigosos, já
que pode facilmente levar a morte. Apesar de sua importância no imaginário
popular, como uma sombra que paira sobre todos os homens, a ira é mais
comumente vista como uma consequência de outros pecados. Ficamos irados por não
conseguirmos aplacar nossos desejos de consumo, seja na luxúria, na gula, na
avareza ou na inveja. A ira é como um resultado disso, que pode nos levar ao
assassinato e a danação do corpo e da alma.
A ira já foi vista até mesmo no Único. A vergonha o tomou quando viu no
que suas primeiras crianças haviam se transformado e, irado, criou os homens
para limpar o mundo. Esta é uma ideia que pode preocupar aqueles que passam
muito tempo refletindo sobre a existência. Estaria o Criador satisfeito com os
rumos da humanidade? Seria ele capaz de propor uma nova limpeza usando filhos
ainda mais jovens e preparados?
Ao contrário do que se poderia imaginar, as
ordens de cavaleiros de Belregard não se valem da ira em seus combates. Um
conhecimento, uma prática, que o próprio Leoric deixou para os homens. Segundo
o Puro, aquele que inicia um combate irado está fadado à derrota. Um verdadeiro
guerreiro deve deixar sua mente leve antes de um embate, assim ele pode
direcionar sua força onde é verdadeiramente preciso. Sentir raiva não é errado,
você só não deve deixar-se levar por ela.
Amom é o Ímpio que representa a ira. Uma
paródia de cavaleiro. Uma criatura de traços hediondos e desproporcionais.
Orelhas pontudas, nariz alongado e cabeça achatada, um corpo de braços e pernas
longos, magros, mas poderosos. Monta em seu cavalo tão deformado quanto ele e
porta uma lança de ossos. Sempre nu, desdenha das proteções dos homens e é
capaz de falar com qualquer pessoa diretamente em sua mente, induzindo
pensamentos que motivam a fúria e o ódio, levando o alvo a perder o controle de
si mesmo.