quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ego te Baptizo in Nomine Patris...




“Come on you outlaws, come on with me,
To the greenwood of Belregard, when men can live free
Trees, wild animals and the cool of the shade
Far from the court, when the laws are made”

- The Outlaw's Song, escrita entre abril de 1305 e fevereiro de 1307.



Os sábios arcebispos de Belregard contam sobre um tempo muito anterior à formação do reinado de Vlákin II. Um tempo onde os homens viviam acuados em pequenos ajuntamentos rústicos, mal podendo sobreviver ao frio do inverno. Uma era onde nossas florestas, nossas montanhas e nossos lagos estavam tomados por aberrações nefastas, seres inumados dotados de dons profanos, capazes de enfeitiçar e despedaçar até o mais valoroso mortal. Conhecemos, hoje, este tempo como a Era da Vergonha.

NNão a tome como uma vergonha nossa, a vergonha que dominou este período negro foi a de Deus. Naquele tempo uma verdadeira corja de criaturas era tida como divina, amálgamas humanoides com traços animalescos e encarnando ideias que nada podem condizer com o claro e puro esclarecimento do Único. Acuados em seus bandos semi-primitivos, os homens deste período negro não nutriam qualquer afeição por aqueles que se intitulavam senhores das rochas e das florestas.


Como o tempo não era contado da mesma forma que fazemos hoje, é difícil apontar com precisão quando os homens passaram a direcionar suas súplicas para aquele que poderia lhes salvar. Como bem sabem, nossa vida é um presente dado pelo Único, aquele cujo poder e compaixão são tão grandes que foram capazes de dar-Lhe companhia. No primeiro momento de sua solidão, o Uno deu forma, pensamento e vida àquela corja de seres divinos. Envergonhado com o rumo que as coisas tomaram, vendo que Seus filhos não davam o devido respeito a nós, homens, Seus eleitos, decidiu agir.


A partir do momento em que o Único favoreceu Seus escolhidos, passamos a contar o tempo e ainda hoje nosso calendário baseia-se neste fato. O que precede esta data chamamos de Antes da Ascensão, e o que sucede a mesma, é chamado Depois da Ascensão. Chamamos desta maneira pela importância que nossa raça passou a ganhar daquele momento em diante. Se a Era da Vergonha durou tempos incontáveis, onde não-humanos gozaram de toda a liberdade, a Era das Revelações teve seu início e perdurou por quase um milênio.






Não foram, porém, revelações para nós, povos humanos. Como disse o Sacerdote Borislav, no ano te 450 DA diante da mata onde estava encurralado o que restou do povo que se dizia dono das florestas, “Venham irmãos! Ergam as armas e clamem pelas aves do Criador! Que o sol torne-se negro pelo vulto de asas sombrias, nós traremos a eles a revelação! Dizem-se senhores da floresta? Que assim seja! Que seu sangue nutra a terra e que sua carne adube as árvores!”, nós traríamos a eles a revelação de que sempre fomos os eleitos e escolhidos do Único.


A limpeza do mundo demorou muito tempo. As florestas estavam infestadas por seres pequenos, esquálidos e velozes. Usavam de covardia para nos emboscar e matar um a um. O fogo foi nosso aliado mais importante na luta contra estas criaturas. O custo, porém, foi alto e boa parte das grandes florestas do centro de Belregard desapareceu. Nas montanhas também tivemos problemas, graças à impressionante resistência de aberrações peludas e atarracadas, com a altura de meio homem. No fim, apenas os mais preparados puderam sobreviver.

Não pense, criança, que o mundo está livre de males horrendos. Mesmo o Único tendo nos favorecido, aquela corja de deuses-animais continuou viva e consciente. Incapaz de matar seus próprios filhos, coube a nós dar cabo das primeiras crias do Único. Nem todos foram mortos e é por isso que ainda podemos encontrar aberrações nos ermos.

Com sua missão cumprida, a de dar o poder a quem merecia, o Único encarnou em um corpo mortal para direcionar a todos nós, dando início a Era do Sangue. Seu último ato, antes de voltar à Abóbada Celeste, que é o seu lar, foi um auto-sacrifício de sangue para perdoar todos os crimes e pecados que invariavelmente cometemos para limpar o mundo. 

Nossa natureza bélica e conquistadora é tão grande quanto aquela que traz a compaixão e o perdão, por isso as guerras não demoraram a acontecer. Sem o direcionamento do Único, mortais gananciosos almejavam uma acumulação de poder assustadora. Por muito tempo, irmão derramou sangue de irmão, e pai matou filho. Somente em 988, com a fundação do Tribunal do Supremo Ofício, é que as coisas pareceram voltar a se acalmar.


O Ofício diferencia-se um pouco da fé que tínhamos nos idos da Era das Revelações. Naquele tempo o Único ainda fazia-se presente em nossas vidas de maneira muito direta e assim não precisávamos da intervenção de outros mortais. Aqueles que escolhiam o sacerdócio eram homens em busca de penitência. Isso mudou na Era do Sangue, já que a ida do Único para a Abóbada deixou o contato dele e dos homens bem mais distante. Assim eram necessários intermediários entre os mortais e o Criador. Após o surgimento do Supremo Ofício, aqueles interessados em seguir o caminho sagrado deveriam dedicar suas vidas a isso. Continua sendo assim até os dias de hoje.


Mesmo com o Tribunal tentando unir todas as terras e a vontade dos homens, um longo período se passou até que tivéssemos Belregard dividida como hoje. Para marcar o fim dos conflitos diretos entre grande parte das lideranças, a Era dos Homens teve seu início, disposta a deixar para trás todo o sangue que foi derramado e que quase tornou o esforço do Único, em nos colocar em nosso lugar de direito, uma inutilidade.


Porém, nem tudo são flores nesta terra, e o conflito sempre bate à nossa porta.  Por mais que não gostemos de admitir, existiram aqueles entre nós que se apiedaram das coisas não-humanas mortas na Era das Revelações e ainda hoje estes hereges e blasfemadores cortejam forças indignas, invejosas de nossa condição. A despeito dos esforços do Tribunal, dedicado à caça destes pecadores, eles ainda espalham-se como pulgas no dorso de um vira-lata.


Das anotações de Haskel, prelado da capela de Virka, no ano de 1001 DA.

4 comentários:

  1. isso seria a ideia inicial do seu cenário?

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  2. Muito bom! Tiveste ótimas idéias.

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  3. Obrigado, Odin. Foi um surto inicial, pra ter um ponto de partida. Em breve devo colocar novidades. E tenho pensado, realmente, em usar o Fudge.

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