quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Belregard: A Era da Vergonha (-??? AA ao Ano 0)


Ninguém sabe dizer quanto tempo durou a Era da Vergonha. Os eruditos de Belregard apontam o seu ápice a partir do momento em que o Único viu a situação na qual suas crianças se encontravam e envergonhou-se do estado das coisas. Tendo este marco como referência aproximada do que se pode apontar como um limiar da Era da Vergonha, onde ela começa a se desenrolar para o que viríamos a chamar de Era das Revelações, usamos esta primeira referência para tudo que veio antes da ascensão da humanidade.

Do início dos tempos nós sabemos muito pouco. Ao longo de nossa história alguns homens experimentaram o convívio com o Único nos dias em que ele caminhou ao lado dos homens. Estes sacerdotes tentaram a todo custo passar para o papel aquilo que vertia da boca divina de nosso Senhor. Pelas palavras que Tullus escreveu em 958 DA: “Nenhuma voz poderia ser mais alta que a Dele. Quando abria Sua boca, todos nós nos calávamos e ouvíamos hipnotizados sobre o início, da criação do mundo como nós conhecemos. Dos dias de horas sem fim que Ele passou nos moldando para sermos perfeitos como o somos hoje. De Sua solidão fria, que O obrigou a dar vida àquelas paródias que agora O envergonhavam pela falta de pudores e consciência. Porém, transcrever tudo o que o Único disse é extremamente difícil. Suas palavras não atingem aos ouvidos, mas a alma. Eu entendo tudo o que Ele ensinou, eu experimentei do divino enquanto Ele falava, mas sou incapaz de escrever nesta folha pobre uma só fração de Sua sabedoria infinita. É por isso que sou falho em todo o relato do início de nossa existência.”.

Quando havia apenas o Vazio, o Único criou a si mesmo para espalhar a ordem em um cosmo ainda selvagem. Tendo trabalhado com as próprias mãos em cada um dos corpos celestes que vemos brilhar no céu escuro durante a noite, o Criador vagou pela imensidão negra como uma criança descobrindo o mundo novo. Apesar de sua felicidade e regozijo na tarefa de moldar, ninguém estava junto Dele para compartilhar daquele momento, para observar o que ele fez e aplaudir ou mesmo criticar. A consciência desta solidão deixou-O triste e assim surgiu o desejo de companhia. Direcionando-se a uma de suas mais belas criações, a joia moldada com calma e esmero, que Ele mesmo batizou de Belregard, o Único iniciou seus primeiros passos na criação de uma vida pensante.

Apesar de perfeito em tudo o que fazia, o Único deixou-se levar pela euforia da criação e ordenou o mundo de forma caótica, indo contra a sua própria natureza ordeira. Os eruditos que tiveram o privilégio de ouvi-Lo pessoalmente apontam este momento para o início da Era da Vergonha, o seu primeiro ato de arrependimento. Ao perceber que precisaria esforçar-se muito para que toda aquela criação agisse de forma coesa e contínua, e ansioso para dedicar-se a outras coisas, nosso criador desprendeu parte de Sua essência na própria terra e assim cuidou para que o ciclo da vida se mantivesse. Nós homens aprendemos a reconhecer isso como a natureza, que mantém a vida em seu eterno ciclo.

Como bem sabem, as primeiras crianças do Único a portarem o dom do livre arbítrio foram os Selvagens. Aqueles que, guiados por um instinto ainda não dominado, acabaram por fornicar com toda a sorte de bestas que caminhavam pela terra, dando origem a paródias animalescas de povos humanoides e racionais. Seria um esforço longo e infrutífero listar as criaturas que caminharam por Belregard desde aquele dia, mas sem sombra de dúvidas nós tivemos contato direto com duas delas, os Dwethären e os Belinaren. Trataremos de ambas com maiores detalhes no ocaso da Era das Revelações.

Demorou certo tempo, novamente impossível de ser calculado, até que o Único aperfeiçoasse sua maneira de criar a vida pensante de Belregard. E foi em um pequeno vale estreito, por onde passava um rio farto em peixes e ladeado por florestas frondosas que o primeiro casal de seres humanos surgiu. Este vale recebeu o nome de Belghor, apontado como o berço de nossa raça, e sua situação hoje não condiz com o respeito que realmente merece. Os nomes do primeiro casal não foram passados pelo Criador. Provavelmente Ele não os nomeou por não ver a necessidade de diferencia-los além do “filho e filha”. Os nomes acabaram vindo depois, com os filhos e os filhos dos filhos destes.

Naquele vale fértil nossa espécie estava à salvo de grande parte das influências de fora, em especial dos seres animalescos. Nosso aprendizado se desenvolveu com certa velocidade e não demoramos a abandonar andanças sem sentido para iniciar o plantio da terra. Apesar disso, aqueles que partiram primeiro espalharam-se lentamente por Belregard. O Único acabou nos deixando à nossa própria sorte, para ver até onde seríamos capazes de ir e, dessa maneira, pudemos provar que a centelha divina colocada em nossos corações não foi um desperdício, como a usada nos Selvagens. Todos nós, homens, devemos nossa existência a um eterno sacrifício do Único. É graças a Sua vontade de criar que podemos caminhar, respirar e sentir. Quando mortos, nossas almas partem de encontro ao que resta do Criador e dessa forma reiniciamos o ciclo que Ele ditou.

Com homens caminhando pelo mundo jovem, não demorou para que o contato com outros seres fossem estabelecidos. A princípio nós tivemos muita curiosidade com relação a tudo que era diferente de nós, uma característica certamente herdada de nosso Pai. Porém, pelos anos de reclusão nas florestas e montanhas, os bestiais tornaram-se arrogantes e nos trataram como crianças ingênuas. Naquele tempo, como a raça mais jovem de Belregard, realmente não tínhamos todos os conhecimentos que os Dwethären e Belinaren puderam juntar em séculos de existência. Por outro lado, nossa tenacidade haveria de ser reconhecida pelos mesmos.

Enquanto que a maior parte dos habitantes de Belregard experimentava uma longevidade extrema, passando facilmente os séculos de vida, nós jamais alcançamos um só centenário. Este traço poderia ser encarado como uma falha, mas é sinal da sabedoria de nosso Criador. Enquanto seres eternamente jovens, nosso ímpeto jamais termina e assim temos a força de vontade necessária para modificar o mundo, como já provamos mais de uma vez. A certeza de que, mortos, retornaríamos ao nosso Criador nos fez não mais temer o fim. Diferente daqueles seres que pareciam esperar punição e assim agarravam-se à vida com todas as suas forças.

Poderíamos ter sido reduzidos à memória de um passado distante, se não fosse pela alma altiva de Morovan, o Velho. que nos lembrou dos ensinamentos do Criador ditados no início de nossa ocupação no vale de Belghor, através das bocas de seus eleitos. Foi preciso que ele nos colocasse de volta em nosso lugar de adoradores, já que muitos de nós deixaram-se levar pelas descobertas. Até mesmo relações estreitas com os “meio homens e meio animais” estavam sendo firmadas. Não eram raros os enfrentamentos, onde nós sofríamos as maiores perdas devido ao conhecimento superior de nossos inimigos. Fora isso, a hostilidade natural nos custava a liberdade.

Conseguindo atrair a atenção de nosso Senhor através de preces e orações, fomos atendidos por Ele. Este é o ponto que marca, de fato, o início de nossa história enquanto raça proeminente. O momento em que o Único olhou para baixo, de seu lar celeste, e viu como seus filhos mais queridos estavam sendo levados para caminhos errados. Como aquela centelha colocada dentro de nós, que arde como fogo e nos impulsiona a conquistas incríveis, poderia ser também a arma de nossa destruição. Novamente atingido pela vergonha, o Único nos favoreceu. Através desta adoração fervorosa, alguns homens, escolhidos pelo próprio povo da recém-formada Virka, receberam dons quase divinos. Dessa forma nós demos um passo à frente, rumo a limpeza do mundo e a nossa posição de direito. A Era da Vergonha chegava ao seu fim com a preparação dos homens para a batalha, prontos para levar a Era das Revelações a diante.

A distribuição de nosso sangue pelo mundo ainda era um pouco diferente da que temos hoje. Basicamente dois pontos eram densamente povoados. O leste, com base no vale de Belghor, o berço de nossa raça, um tanto quanto relegado a poucas famílias, mas que, aos poucos, apresentavam um significativo crescimento populacional. E o oeste concentrado nas pradarias de Virka, um ajuntamento rústico e recém-formado, na área mais segura que foi possível encontrar. Abandonando suas armas toscas de madeira e pedra, os homens iam assimilando as instruções passadas por seus sacerdotes, vindas diretamente do nosso Pai, e dessa maneira foram capazes de iniciar o plantio, erguer muros e protegerem-se contra hostilidades. Nesse ponto nós tivemos a prova de uma outra força muito superior da humanidade, o coletivo. O norte e o sul continuavam dominados pelos Selvagens e só direcionaríamos nossa atenção para lá num futuro ainda distante.

Hoje nós marcamos estes eventos como períodos Antes da Ascensão (AA), numa referência a nossa própria condição inferior nestes tempos sombrios. A partir daí, com a formação de um Concílio em Virka, reunindo os religiosos e lideres guerreiros, passamos a contar nosso tempo. No Primeiro dia do Ano Um, uma flecha incendiária foi lançada contra os Belinaren, seguida de um sem número de outras, bloqueando o sol para os hereges de uma vez por todas.

3 comentários:

  1. Muito bom! Criastes um excelente ponto de partida para a mitologia deste novo mundo.

    Vossos trabalhos estão cada vez melhores. Parabéns!

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  2. Tenho acompanhado o projeto e está otimo ate o momento. brincar com mitologias é sempre interessante.

    Espero que o Brainstorm de ontem tenha ajudado.

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  3. Obrigado pelos comentários, meus camaradas. Ando quase sem tempo, por conta do trabalho, mas em breve coloco aqui a segunda era de Belregard.

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