Sem o direcionamento de nosso Deus, não demorou para que os mais gananciosos visassem tomar o poder à força. O primeiro passo foi Rastov. Sendo a terra também do rei de Virka, Vlakin I, Rastov não era era sua cede de poder. A corte do reino ficava fadada principalmente aos barões, já que até mesmo os condes mudaram-se para Virka, numa tentativa de ficarem mais próximos do rei. Insatisfeitos com essa situação, sendo deixados de fora de grande parte das decisões mais importantes e tendo, para todos os efeitos, boa parte do poderio militar dentro do reino, os barões de Rastov dividiram a terra entre si e não mais obedeceram a autoridade direta do rei. Qualquer decreto deveria passar, primeiro, pelo aval do conselho de barões. Desse modo, o Baronato de Rastov nasceu.
Mais ao sul, nas estepes por onde os primeiros desbravadores daquele norte haviam caminhado, um povo primitivo vivia à própria sorte, os vihs. Altos e de compleição robusta, não demorou a serem explorados como mão de obra. Os barões de Rastov viram ali um potencial militar. Recrutando os mais fortes, em troca de benefícios parcos, aqueles bárbaros foram treinados como mercenários em nome dos barões, mas porque? Tolo é aquele que pensa na colaboração plena dos homens entre si. Logo depois de terem formado o Baronato, os conflitos internos eclodiram, mesmo que rasteiros, por baixo dos panos. A contratação de mercenários deixou clara a situação em que aquele local se encontrava.
Em determinado momento, no ano de 940, os (uma vez) bárbaros decidiram reagir à exploração de sua própria gente. Já sem uma identidade étnica bem definida como antes, conseguiram fazer valer sua representação dentro dos círculos de poder de Belregard. Fosse através de algum vih que entrou para o sacerdócio, ou mesmo um que tornou-se general depois de vender suas armas a reinos mais poderosos, o reino de Viha foi fundado e o gosto pela conquista embutido naquele povo uma vez recluso. Por muito tempo a Taiga Branca, região florestal que separa Rastov de Viha, foi palco para o combate entre as duas partes. De um lado, os barões tentavam fazer sua influência ser novamente sentida no reino recém-formado. Do outro, homens orgulhosos tentavam se reerguer depois de um longo tempo tendo sua força usada para fins de terceiros.
Os responsáveis por Virka começavam a sentir que aquela unidade deixada pelo Criador estava sendo perdida, não demoraria para que Belregard se visse dividida, com os homens lutando entre si. Diante desta terrível verdade, Vlakin I procurou uma maneira de salvar a si mesmo. Apelando para o cerne da religião que, mesmo dividida, ainda era a mesma entre toda a humanidade e proclamou Virka um estado sagrado. Como primeira cidade a erguer suas muralhas e lançar o ataque contra os Selvagens, deveria ser preservada e protegida por todos os reinos. Além disso, as decisões mais importantes, concílios, congressos, nomeações e julgamentos relevantes deveriam ser presididos no salão real. Diante desta situação, os outros reinos também cobraram sua cota de exigências. Virka não mais seria servida por um corpo permanente de voluntários, como havia sido até então. A partir de agora, sua proteção dependeria também dos outros reinos e estes homens receberiam um pagamento pelo seu serviço, dando origem aos primeiros soldados de Belregard, homens de armas que recebem o soldo pelo trabalho.
Com Virka em pleno estado de sítio e como centro do poder burocrático de Belregard, a guerra tomou os campos diplomáticos. Em pouco tempo descobriu-se que uma língua afiada pode ser muito mais mortal que qualquer lâmina, dentro da corte real. A situação não agradou a todos, é claro. Leoric de Birmanen, que havia cuidado de sua região aos mesmos moldes de Virka, achou aquilo uma verdadeira ousadia contra o que o Único ensinou e tentou, inclusive, tomar posse do castelo em um ataque, mas suas forças divididas, no atrito constante contra Belghor, não puderam render muitos frutos. Esta atitude gerou um conflito com o conselheiro de Leoric, uma espécie de Eleito inferior que ele mantinha próximo a si, novamente remetendo a imagem de Virka. Lazarus, o conselheiro, opôs-se a atitude de Leoric e este conflito dividiu o reino, deixando o antigo monarca com a parte sul, agora chamada Braden e Lazarus com a parte norte, chamada Birman.
A insatisfação também afetou uma nova classe social que vinha surgindo, ainda tímida dentro da sociedade de Belregard. É preciso entender que, neste momento, a ideia dos burgos ainda é muito nova. No período anterior a pregação de Lazlo, sobre o trabalho e o acúmulo de riquezas, os ajuntamentos populacionais eram raros, geralmente limitados a uma ou duas famílias. Ao redor dos castelos ficava a corte, destinada aos mais importantes, condes, barões, bispos, oradores e duques. Com o crescimento do comércio e a valorização do trabalho de criação, não mais o simples “plantar para colher”, estes centros vão se tornando mais fervilhantes e cheios de vida, com homens apinhando-se nas praças para vender o maior tipo de produtos. Vendas estas que eram feitas, em sua maioria, através do escambo, principalmente. Foi o próprio Lazlo quem sugeriu a criação de uma moeda, utilizando-se da prata, metal mais comum, para os comércios menores e o ouro, mais raro, para negociações de grande porte.
Esta nova classe, os habitantes dos burgos, burgueses, ficou descontente com a atitude tomada por Vlakin I e reagiram concentrando suas posses numa área mais ao sul, onde certos homens influentes já tinham suas próprias propriedades. A ideia de fundar um porto veio depois explorações amadoras da costa de Belregard. Alguns marinheiros disseram ter avistado terras a algumas semanas de viagem, mas os suprimentos eram poucos para um exploração de fato. Não demorou para que outras cidade à beira do mar se beneficiassem da ideia do porto e foi assim que as terras de Varning puderam prosperar, com o apoio de burgueses e inovação naval.
Dalanor surgiu pouco tempo depois, como uma extensão do território de Varning que não foi aproveitado pelo lorde local. As terras acabaram por ser desapropriadas depois que Vlakin I tomou a atitude de dividir as terras de Virka entre alguns nobres e hoje o reino paga por isso. Sem uma estrutura bem estabelecida, Dalanor sofre agressões vindas do norte, por parte de Viha, e do leste, por parte de Igslav. Os igslavos são aparentados dos vihs e podem ser apontados como um primeiro resultado da mistura entre as etnias que formas Rastov e Viha. Senhores das estepes por onde a Legião Fastasmagórica também passou, eles mantém uma tradição cavaleiresca muito fiel à apresentada originalmente, dos Cavaleiros Alvos. Diferente de Viha, Igslav tem relações estreitas com Rastov e, apesar de não se deixar dominar, está sempre à serviço dos barões.
A região que tornou-se Parlouma era, originalmente, uma espécie de retiro para a monarquia. As pradarias seguem por quilômetros sem vim, até que possa-se avistar as montanhas que escondem Belghor. Uma área submetida a lei florestal, onde apenas o rei e os seus eram permitidos perambular e caçar, sua perda foi como uma facada no coração de Vlakin I. Até hoje seus vinhedos produzem os vinhos mais cobiçados em todas as cortes de Belregard e a proximidade com a maldita Belghor, preocupa a todos.
O que ocorre naquele vale sombrio era, e continua sendo, segredo para todos nós. O relato de Alec é assustador, quanto a condição de Belghor: “Desta vala imunda a maior corrente da maldade humana flui para fertilizar o mundo todo. Deste esgoto imundo jorra ódio puro. Aqui a humanidade atinge o seu mais completo desenvolvimento e sua maior brutalidade, aqui a civilização faz milagres e o homem civilizado torna-se um selvagem”. Dos territórios ocupados, apenas Braden mantém contato com Belghor, um contato hostil. Os conflitos no Passo de Morovan são extremamente brutais e violentos, apesentando uma sorte infinita de máquinas e engenhos saídos diretamente de pesadelos, usados por Bövrar.
Diante de todo estes caos que estava instalando-se dentro de Belregard, Alec, o último dos Puros ainda vivo, decidiu terminar com suas andanças e agir. Sendo o mais respeitado dentre os três puros que restaram, pela sua atitude desprendida de tudo, foi ouvido em cada um dos conselhos reais, passando dias a debater nas cortes, disposto a fazer a mudança. O que ele tentava, era reunir apoio de outros sacerdotes, outros oradores, para criar uma nova força medidora da humanidade. O Único não estava mais lá e não era por isso que tudo deveria ser entregue ao caos e a destruição. Dessa maneira, em 988 o Tribunal do Supremo Ofício foi criado, uma verdadeira força paramilitar e semi-secreta para tentar controlar a crescente onda de violência entre as lideranças.
Além da questão evidente, o Tribunal tinha por objetivo guiar uma inquisição. Esta que seria responsável por investigar casos de homens que dispunham-se a flertar com a Sombra, cortejando a escuridão em busca de favores. Aparentemente a Sombra ainda era capaz de dar, àqueles que a serviam, poderes quase divinos. Em toda cidade havia algum culto agindo sob os olhares de todos. O de maior repercussão foi o Uivo Solene, onde homens vestiam máscaras cerimônias, em forma de lobo, e praticavam as mais dantescas depravações em nove de uma pureza espiritual. Ainda hoje tais cultos se proliferam por Belregard e o olhar atento do Tribunal faz o possível para elimina-los antes que façam muitas vítimas.
Com o esforço de apaziguar as forças de Belregar tendo sucesso, esta velha geração deu lugar a uma nova e para marcar o fim dos conflitos, ou a esperança disso, inciou-se uma nova era. A Era dos Homens estaria longe de ser aquilo que Alec um dia idealizou.
Nossa curti muito o texto, fora que o layout do blog está muito massa. Parabéns! XD
ResponderExcluirOpa! Obrigado pela visita, Red Dragon. Lhe convido a ler sobre Belregard desde a Era da Vergonha. Só seguir os links desta tag ou clicar na aba de Belregard lá em cima. Abraço!
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