sexta-feira, 29 de abril de 2011

Funerais, Túmulos e Linhagens entre os Bárbaros




Seguindo os relatos contidos nos diários de Alec, pude confirmar muitas das maravilhas, e dos horrores, vislumbrados pelos olhos do Puro em Belregard. É impressionante como certas criações, construções e feitos estão intimamente relacionados com o comportamento e a maneira de ver o mundo de um determinado povo. Constatei o fato mais simbólico desta relação em visita à Taiga Branca, lar ancestral dos vihs e igslavos. Apesar de terem se afastado, devido a conflitos políticos e religiosos, ambas as etnias realizavam os mesmos rituais funerários para seus mortos importantes. Enquanto os igslavos absorveram completamente a cultura do homem civilizado e a fé no Único, os vihs ainda praticam certas heresias disfarçadas de costume.

Hoje, os igslavos enterram seus falecidos de maneira simples e em locais sagrados. Procissões são realizadas em homenagem ao caído e orações são direcionadas para que ele possa partir ao encontro do Único na Abobada Celeste. Já os vihs erguem construções de pedra para os seus mortos. Estas construções, chamadas Kern, consistem em um pequeno santuário feito em pedra e certado por cascalho e terra até o seu teto, sustentado por vigas e colunas de madeira. Alguns são pequenos, dedicados a apenas um cadáver, mas outros podem formar verdadeiras galerias sob a terra.

Com o passar dos anos estes montes de pedra e cascalho acabam sendo cobertos pela vegetação circunvizinha, e a erosão causa um desgaste natural das estruturas, deixando-as com um formato circular, ondulado. Por isso tamanha foi minha surpresa ao descobrir que a Colina Kernis era plana a gerações atrás, tomando aquele aspecto ondulado só depois de muitos funerais dedicados a grandes líderes e a grandes linhagens.

Houve um rei entre os bárbaros, de nome Kurgen, que teria sido o primeiro a ser enterrado desta maneira. Segundo a lenda, contada por vihs e igslavos, o líder teria ordenado a construção de seu kern pouco antes de sua morte, já que assim estaria de volta ao seio da terra, aquela que é a verdadeira mãe de todos os homens e coisas vivas do mundo. Um típica ingenuidade dos povos primitivos, é claro. O kern de Kurgen é procurado por vihs que acreditam na ideia de que encontrando o túmulo deste antigo herói, eles serão capazes de abrir os olhos de seus primos igslavos para a enganação que a fé no Criador os tem submetido há muito tempo. Um sinal claro do perigo da heregia destes brutos.

Mais do que uma homenagem aos mortos, os kern servem como uma prova do sangue guerreiro dos vihs. Entre eles é comum identificar-se com algum grande heróis do passado, para que assim seu próprio nome passe a ter um significado e um peso na sociedade. Não é costume atrelar um homem ao sangue que corre em suas veias, mas sim o seu comportamento. Se Irik identifica-se mais com a linhagem de Biörn do que com a de Brann, da qual descende, não é vergonha alguma para ele renegar seu sangue e passar a ser reconhecido como Irik Kern'Biörr, ao invés de Irik Kern'Brann. É claro que antigos membros destas linhagens cobiçadas testarão o candidato, para certificarem-se de que ele tem, ou não, o valor necessário.

Este costume reflete a ideia da mãe terra como genitora dos homens. Tirando assim a ordem dada ao mundo pelo Criador, tornando todo homem igual e capaz de todo tipo de feito, independente de onde ele nasce. Este costume, ainda enraizado na mentalidade dos vihs, torna a própria mobilidade social dentro de sua castelania algo mais frouxo, permitindo o surgimento de uma nova classe intermediária de servos independentes e com treinamento militar. Algo parecido com o que ocorre em Varning, mas lá esta nossa classe dedica-se quase exclusivamente ao comércio.

- Das anotações de Haskel.  

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