Seguindo
os relatos contidos nos diários de Alec, pude confirmar muitas das
maravilhas, e dos horrores, vislumbrados pelos olhos do Puro em
Belregard. É impressionante como certas criações, construções e
feitos estão intimamente relacionados com o comportamento e a
maneira de ver o mundo de um determinado povo. Constatei o fato mais
simbólico desta relação em visita à Taiga Branca, lar ancestral
dos vihs e igslavos. Apesar de terem se afastado, devido a conflitos
políticos e religiosos, ambas as etnias realizavam os mesmos rituais
funerários para seus mortos importantes. Enquanto os igslavos
absorveram completamente a cultura do homem civilizado e a fé no
Único, os vihs ainda praticam certas heresias disfarçadas de
costume.
Hoje, os
igslavos enterram seus falecidos de maneira simples e em locais
sagrados. Procissões são realizadas em homenagem ao caído e
orações são direcionadas para que ele possa partir ao encontro do
Único na Abobada Celeste. Já os vihs erguem construções de pedra
para os seus mortos. Estas construções, chamadas Kern,
consistem em um pequeno santuário feito em pedra e certado por
cascalho e terra até o seu teto, sustentado por vigas e colunas de
madeira. Alguns são pequenos, dedicados a apenas um cadáver, mas
outros podem formar verdadeiras galerias sob a terra.
Com
o passar dos anos estes montes de pedra e cascalho acabam sendo
cobertos pela vegetação circunvizinha, e a erosão causa um
desgaste natural das estruturas, deixando-as com um formato circular,
ondulado. Por isso tamanha foi minha surpresa ao descobrir que a
Colina Kernis era
plana a gerações atrás, tomando aquele aspecto ondulado só depois
de muitos funerais dedicados a grandes líderes e a grandes
linhagens.
Houve um
rei entre os bárbaros, de nome Kurgen, que teria sido o primeiro a
ser enterrado desta maneira. Segundo a lenda, contada por vihs e
igslavos, o líder teria ordenado a construção de seu kern pouco
antes de sua morte, já que assim estaria de volta ao seio da terra,
aquela que é a verdadeira mãe de todos os homens e coisas vivas do
mundo. Um típica ingenuidade dos povos primitivos, é claro. O kern
de Kurgen é procurado por vihs que acreditam na ideia de que
encontrando o túmulo deste antigo herói, eles serão capazes de
abrir os olhos de seus primos igslavos para a enganação que a fé
no Criador os tem submetido há muito tempo. Um sinal claro do perigo
da heregia destes brutos.
Mais do
que uma homenagem aos mortos, os kern servem como uma prova do sangue
guerreiro dos vihs. Entre eles é comum identificar-se com algum
grande heróis do passado, para que assim seu próprio nome passe a
ter um significado e um peso na sociedade. Não é costume atrelar um
homem ao sangue que corre em suas veias, mas sim o seu comportamento.
Se Irik identifica-se mais com a linhagem de Biörn do que com a de
Brann, da qual descende, não é vergonha alguma para ele renegar seu
sangue e passar a ser reconhecido como Irik Kern'Biörr, ao invés de
Irik Kern'Brann. É claro que antigos membros destas linhagens
cobiçadas testarão o candidato, para certificarem-se de que ele
tem, ou não, o valor necessário.
Este
costume reflete a ideia da mãe terra como genitora dos homens.
Tirando assim a ordem dada ao mundo pelo Criador, tornando todo homem
igual e capaz de todo tipo de feito, independente de onde ele nasce.
Este costume, ainda enraizado na mentalidade dos vihs, torna a
própria mobilidade social dentro de sua castelania algo mais frouxo,
permitindo o surgimento de uma nova classe intermediária de servos
independentes e com treinamento militar. Algo parecido com o que
ocorre em Varning, mas lá esta nossa classe dedica-se quase
exclusivamente ao comércio.
- Das
anotações de Haskel.
Muito interessante. Muito mesmo.
ResponderExcluirMuito F&¨% como sempre, esperando um re-post no Reduto!
ResponderExcluirRs!
Valeu pelos comentários, pessoal!
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