segunda-feira, 9 de maio de 2011

Devaneios e Reflexões Criativas



Como alguns devem saber, tenho trabalhado na descrição de um cenário de nome Belregard. Uma fantasia medieval que pretende ser madura, densa e cativante. Não sei se isso já aconteceu com vocês, mas por vezes tenho bloqueios mentais que me deixam estéril e não existe cura para os mesmos, eles simplesmente vão embora quando querem. Algumas vezes leituras podem ajudar, fornecendo sementes de ideias para germinarem na nossa mente. Algum filme ou mera conversa casual com um amigo ciente do assunto também podem auxiliar. Quando ela volta, é sempre bom, nos sentimos novos e prontos para escrever páginas e páginas, como se aquilo não tivesse fim. As minhas crises costumam demorar muito e eu vivo uma a um bom tempo. Parte dos posts sobre Belregard que coloco aqui estão prontos a meses e na falta de material, acabo os divulgando.

Acabei dando um tempo de escrever e procurei aquelas fontes que costumavam me ajudar. Primeiro nos velhos livros de história, mas dessa vez Le Goff, Pastoureau e Bloch não me ajudaram muito. Motivado pelas resenhas abundantes nos blogs de RPG por ai, acabei adquirindo um livro de fantasia. Tenho certeza que, a essa altura, todos reconhecem os nomes “Guerra dos Tronos” e “Crônicas de Gelo e Fogo”. Comecei a ler sem muito compromisso e não demorou para que o livro se revelasse uma faca de dois gumes. Advirto aqueles que leem, o post conterá spoilers, mas nada que lhes estrague a leitura.

No começo, eu pensei que tivesse feito um mal negócio. Não achei o texto tão pesado quanto muitos disseram, nada tão denso ou terrível. Por um momento pensei que tivesse adquirido um Nárnia da vida (nada contra a obra, mas eu estava esperando algo diferente) e fiquei desapontado. Segui o conselho de um professor que dizia para darmos duas horas a um livro, se ele não te prendesse nesse tempo, podia jogá-lo fora. Foi o que eu fiz.

Era muito bem escrito, mas a estória ainda não havia me fisgado. Crianças com lobos de estimação, um rapaz de nome Branddon parecendo destinado ao trono quando seu pai é convocado para ser a Mão do Rei, picuinhas familiares, meu humor não era dos melhores quando comecei, mesmo. Quão grande foi minha surpresa no momento em que este mesmo rapaz, aparentemente um bom candidato a herói salvador do mundo, cai de uma janela, empurrado por um homem que estava a fornicar com a própria irmã, e fica então paraplégico. Eu vibrei pelo horror! Naquele momento eu sabia que as surpresas não faltariam e foi o que aconteceu. Ainda não terminei o livro, mas até sua metade a estória se desenrola de maneira surpreendente.

Porém não demorou para o lado ruim dessa história voltar. Depois de pouco tempo eu percebi que Westeros, o nome daquela terra, tem muito do que eu sempre imaginei para Belregard. Apenas homens, sem seres fantásticos, muita política e intriga de corte, a realidade crua de batalhas e um anão! Eu fiquei realmente puto com lorde Tyrion. Sempre imaginei criar um npc influente para Belregard, talvez um castelão de Varning, que fosse anão, mas agora me sentirei um ladrão de ideias. Eles também tem uma muralha, malditos sejam. A muralha que defende o povo do norte contra os Outros que podem surgir quando o inverno chegar, beirei a depressão quando essas semelhanças ficaram tão claras.

Novamente não sei se já experimentaram este sentimento, quando coincidências desse tipo acontecem e suas próprias ideias parecem ter sido usadas antes, por outro alguém. É um pouco chato, no começo, mas eu não consegui parar de ler. Não sei o que farei com minhas próprias versões destas coisas. Deixá-las de lado seria uma traição a minha pessoa e é bem possível que eu continue com minhas próprias leituras. Apesar de todo esse mal que Guerra dos Tronos me causou, eu recomendo a todo fã de fantasia. Irão se surpreender como eu me surpreendi.

PS – Não levem a sério minhas ofensas. O posto é intencionalmente exagerado. A única coisa plenamente verdadeira é a satisfação em ler o tal livro.  

4 comentários:

  1. Essas coincidências me fazem lembrar do que Platão falava sobre o mundo das Ideias: elas estão lá, em sua forma perfeita, e nós aqui só contemplamos sua sombra. O problema é que uns se apropriam das sombras antes dos outros, pelo jeito.

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  2. Concordo contigo, nobre clérigo. Esta sensação de que alguém fez algo que estávamos para fazer é bastante freqüente.

    De qualquer modo, espero que este seja mesmo um bom livro, pois meu alter-ego mortal há de ganhá-lo em seu aniversário.

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  3. Eu tenho essa sensação o tempo todo! Estive a escrever uma história, mas a toda hora vejo algo que parece ter copiado meus pensamentos, mesmo quando penso ter sido original. E os panes de criatividade, então, são terrivelmente constantes.

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  4. Hahaha! É bom saber que não estou só nestas crises todas. Obrigado pelos comentários, pessoal.

    O livro é ótimo, Odin. Realmente surpreendente a cada capitulo.

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