Como
alguns devem saber, tenho trabalhado na descrição de um cenário de
nome Belregard. Uma fantasia medieval que pretende ser madura, densa
e cativante. Não sei se isso já aconteceu com vocês, mas por vezes
tenho bloqueios mentais que me deixam estéril e não existe cura
para os mesmos, eles simplesmente vão embora quando querem. Algumas
vezes leituras podem ajudar, fornecendo sementes de ideias para
germinarem na nossa mente. Algum filme ou mera conversa casual com um
amigo ciente do assunto também podem auxiliar. Quando ela volta, é
sempre bom, nos sentimos novos e prontos para escrever páginas e
páginas, como se aquilo não tivesse fim. As minhas crises costumam
demorar muito e eu vivo uma a um bom tempo. Parte dos posts sobre
Belregard que coloco aqui estão prontos a meses e na falta de
material, acabo os divulgando.
Acabei
dando um tempo de escrever e procurei aquelas fontes que costumavam
me ajudar. Primeiro nos velhos livros de história, mas dessa vez Le
Goff, Pastoureau e Bloch não me ajudaram muito. Motivado pelas
resenhas abundantes nos blogs de RPG por ai, acabei adquirindo um
livro de fantasia. Tenho certeza que, a essa altura, todos reconhecem
os nomes “Guerra dos Tronos” e “Crônicas de Gelo e Fogo”.
Comecei a ler sem muito compromisso e não demorou para que o livro
se revelasse uma faca de dois gumes. Advirto aqueles que leem, o post
conterá spoilers, mas nada que lhes estrague a leitura.
No
começo, eu pensei que tivesse feito um mal negócio. Não achei o
texto tão pesado quanto muitos disseram, nada tão denso ou
terrível. Por um momento pensei que tivesse adquirido um Nárnia da
vida (nada contra a obra, mas eu estava esperando algo diferente) e
fiquei desapontado. Segui o conselho de um professor que dizia para
darmos duas horas a um livro, se ele não te prendesse nesse tempo,
podia jogá-lo fora. Foi o que eu fiz.
Era muito
bem escrito, mas a estória ainda não havia me fisgado. Crianças
com lobos de estimação, um rapaz de nome Branddon parecendo
destinado ao trono quando seu pai é convocado para ser a Mão do
Rei, picuinhas familiares, meu humor não era dos melhores quando
comecei, mesmo. Quão grande foi minha surpresa no momento em que
este mesmo rapaz, aparentemente um bom candidato a herói salvador do
mundo, cai de uma janela, empurrado por um homem que estava a
fornicar com a própria irmã, e fica então paraplégico. Eu vibrei
pelo horror! Naquele momento eu sabia que as surpresas não faltariam
e foi o que aconteceu. Ainda não terminei o livro, mas até sua
metade a estória se desenrola de maneira surpreendente.
Porém
não demorou para o lado ruim dessa história voltar. Depois de pouco
tempo eu percebi que Westeros, o nome daquela terra, tem muito do que
eu sempre imaginei para Belregard. Apenas homens, sem seres
fantásticos, muita política e intriga de corte, a realidade crua de
batalhas e um anão! Eu fiquei realmente puto com lorde Tyrion.
Sempre imaginei criar um npc influente para Belregard, talvez um
castelão de Varning, que fosse anão, mas agora me sentirei um
ladrão de ideias. Eles também tem uma muralha, malditos sejam. A
muralha que defende o povo do norte contra os Outros que podem surgir
quando o inverno chegar, beirei a depressão quando essas semelhanças
ficaram tão claras.
Novamente
não sei se já experimentaram este sentimento, quando coincidências
desse tipo acontecem e suas próprias ideias parecem ter sido usadas
antes, por outro alguém. É um pouco chato, no começo, mas eu não
consegui parar de ler. Não sei o que farei com minhas próprias
versões destas coisas. Deixá-las de lado seria uma traição a
minha pessoa e é bem possível que eu continue com minhas próprias
leituras. Apesar de todo esse mal que Guerra dos Tronos me causou, eu
recomendo a todo fã de fantasia. Irão se surpreender como eu me
surpreendi.
PS –
Não levem a sério minhas ofensas. O posto é intencionalmente
exagerado. A única coisa plenamente verdadeira é a satisfação em
ler o tal livro.
Essas coincidências me fazem lembrar do que Platão falava sobre o mundo das Ideias: elas estão lá, em sua forma perfeita, e nós aqui só contemplamos sua sombra. O problema é que uns se apropriam das sombras antes dos outros, pelo jeito.
ResponderExcluirConcordo contigo, nobre clérigo. Esta sensação de que alguém fez algo que estávamos para fazer é bastante freqüente.
ResponderExcluirDe qualquer modo, espero que este seja mesmo um bom livro, pois meu alter-ego mortal há de ganhá-lo em seu aniversário.
Eu tenho essa sensação o tempo todo! Estive a escrever uma história, mas a toda hora vejo algo que parece ter copiado meus pensamentos, mesmo quando penso ter sido original. E os panes de criatividade, então, são terrivelmente constantes.
ResponderExcluirHahaha! É bom saber que não estou só nestas crises todas. Obrigado pelos comentários, pessoal.
ResponderExcluirO livro é ótimo, Odin. Realmente surpreendente a cada capitulo.