domingo, 28 de novembro de 2010

Conto: Preço da Vingança

Mais um post atípico. Enquanto tenho criado algum material, o que demora mais do que eu imaginava, trago um velho conto meu. Encontrei-o perdido aqui no meio dos arquivos e lembrei-me que as vezes eu não escrevo tão mal. O conto foi feito, originalmente, pra ser enviado a um concurso da RedeRPG. Circo dos Horrores era o nome do projeto, se não me engano, que iria juntar contos curtos de horror para servirem como aquele "gatilho" de inspirarão para os leitores. Um dos meus contos foi escolhido, mas até hoje eu não vi o netbook. O conto não tem nada haver com Vikings, como podem imaginar e não tem pé nem cabeça. O objetivo era apenas capturar uma cena. Eu não sei vocês, mas esse tipo de coisa costuma me ajudar muito quando busco inspirações. Não esperem entendê-lo por completo, nem eu entendo. Por fim, ele pode ser pesado para algumas pessoas e por isso eu vou deixar fechado, leia por sua própria conta em risco



Preço da Vingança

            Primeiro, ouvi o som do metal sendo arrastado. Calma e pesadamente, como alguém que grita em agonia sem ter a menor esperança de ser ouvido. E o caso era realmente esse. A figura trôpega que se revelou da neblina carmesim era algo que cansou de sofrer. Algo quebrado e que não sente nada. Em meio à dor eterna, a figura marcada por chagas teve sua epifania macabra. Um corpo pálido, musculoso e cheio de cicatrizes de ferimentos dilacerantes, cambaleando por corredores vazios, arrastando uma longa arma de execução...


            Executor, é isso o que ele é.

            Mas do que vale ser um executor, se não existem vítimas? Apenas bestas, tão horrendas quanto ele, assombravam os corredores da cidade cinzenta. A coisa precisava de carne jovem, carne fresca, para saciar seus desejos sádicos. Desejos descobertos nas dores dos outros. Isso pouco importava, ele pagava todos os seus crimes minuto a minuto, carregando aquele aparato de tortura em sua cabeça. Os passos lentos eram motivados apenas por isso... Dor.

            As luvas brancas encardidas davam a ele um ar de cirurgião que logo era quebrado pelo avental de açougueiro enegrecido pelo sangue velho de vítimas passadas. Por mais horror que seu aspecto me causava, minha devoção era evidente ao vislumbrar toda sua grandiosidade. Continuei prostrado no chão, em completa servidão, certo de que meus pedidos seriam atendidos.

            Todos os preparativos haviam sido feitos. A carne virgem estava preparada, dopada sobre o altar de mármore, e, assim que a figura imensa passou ao meu lado, pude confirmar que o som de metal não vinha apenas da arma ao chão, mas também do interior daquele tributo a dor que ostentava em sua cabeça. Não ousei olhar mais.

            Nem meio segundo se passou e o salão escuro foi inundado por uma cacofonia de vozes atormentadas, todas guiadas por uma única melodia. A que saia da boca do corpo virginal do altar. Não pude evitar chorar, extremamente emocionado por ter o privilégio de presenciar aquela cena abissal. Eu teria minha vingança assim que minha pequena filha terminasse de satisfazer o Anjo do Senhor.

2 comentários:

  1. Um conto deveras macabro, mas ainda assim, muito bem escrito.

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  2. Obrigado, Odin. Percebo que foi realmente bom avisar que poderia incomodar.

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