quinta-feira, 17 de março de 2011

Bestiário: Lobos



Os lobos fazem parte do imaginário de Belregard como seres de uma forte dicotomia. Por um lado, são representações do mal vil encarnado e por outro, podem inspirar valores de determinação e orgulho. Grandes homens, ao longo das eras, receberam o epíteto de lobo, para representar noções variadas de zelo, esperteza e crueldade. É preciso saber, porém, que nem todos os lobos são seres ordinários, que surgem da vida do homem comum com o intuito de lhe roubar as ovelhas. Existem lobos especialmente vis e cruéis, apontados pelo clero de Belregard por seu nome verdadeiro: Lupus Turpis.

A estes seres são atribuídos dons profanos. Dizem que se um Lupus ver uma pessoa, antes desta pessoa tê-lo visto, a vítima perderá o dom da fala. Esta teoria não é refutada quando encontram-se cadáveres dilacerados, nas matas e bosques de Belregard, sem que qualquer morador do campo tenha ouvido um só grito durante a noite. A única maneira de recuperar a fala, antes que o lobo mate sua presa, é livrando-se das roupas e batendo com duas pedras, uma contra a outra, com ambas as mãos. No caso do homem avistar o Lupus primeiro, este fica incapaz de ataca-lo e parte o mais rápido que pode.

O tamanho avantajado de um Lupus é capaz de intimidar a qualquer homem, do mero camponês ao homem de armas, e sua força está muito concentrada nas patas e na mandíbula. Os ombros largos destes animais suportam o peso de um homem e mesmo os lobos comuns são capazes de carregar ovelhas sobre os mesmos. O que não acontece com seu lombo, a parte mais fraca do animal, que é compensada com a poderosa mordida, capaz de arrancar um pedaço do próprio corpo, a fim de não se deixar ser capturado. A determinação desta besta é tão grande, que nos momentos de caçada, ao aproximar-se silenciosamente do curral das ovelhas, um lobo é capaz de morder a si mesmo na perna para punir-se, no caso de acabar produzindo algum som que desperte a atenção de suas presas.


Sua coloração pode variar imensamente. Na parte central de Belregard, onde são mais raros, apresentam uma pelagem marrom escura. Para o leste, na direção de Parlouma, Birman, Belghor e Braden, o tom torna-se mais escuro, chegando a ser negro. Existem relatos de avistamentos de lobos na área de Belghor com imensas chagas mapeando seus corpos raquíticos, o que fomenta toda a sorte de boatos sobre aquele território profano. Do lado oeste, que comporta Viha, Igslav, Rastov e Dalanor, a coloração destes animais toma um tom avermelhado e claro, chegando ao branco nas espetes do norte. Os Lupus costumam seguir o mesmo padrão de cor, mas o vermelho e o azul cobalto tendem a predominar. O que torna o reconhecimento de um Lupus mais fácil está em seu porte altivo, intimidador, no brilho dos olhos nefastos e no hálito que tem cheiro de morte. Alguns religiosos apontam o brilho no olhar como um lembrete do Único para os homens que deixam-se levar pelas belezas que a Sombra pode demonstrar, mas logo veem-se sufocados por seu hálito profano.

A reprodução destas bestas é extremamente complicada. As fêmeas são capazes de gerar proles apenas por doze dias no ano, o que costuma acontecer em Hveit. Entre os camponeses, e mesmo os citadinos, é comum fazer o Sinal do Divino quando ouvem-se trovões neste mês, por considerar-se a dor da terra ao sentir em seu solo mais uma destas crias nefastas sendo paridas.

5 comentários:

  1. Caraca Belregard tem esse toque de realismo com misticismo e folklore na medida certa. J vc está fazendo um ótimo trabalho. Esse post me lembrou aquele filme "Pacto com Lobos".

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  2. Concordo convosco! Belregard, assim como este nobre blog, está cada vez mais rico.

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  3. Obrigado pelos comentários, camaradas. É realmente divertido escrever sobre estes bestiários.

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  4. É verdade que os lobos possuem um tipo de nó?

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