Uma
das comemorações mais duvidosas de Belregard, e de longe a mais popular, o
Carnis Valis divide opiniões dentro da sociedade. Apontado como uma celebração
herege dos anos das Revelações, o Carnis Valis acontecia em vários pontos do
mundo, mesmo que as comunidades não tivessem contato entre si e mantivessem
suas próprias maneiras de comemorar o mesmo, independente da distância e
inexistência de contato, nos meses que terminam e começam um novo ano, tinha-se
por costume festejar com soberba.
Alguns
eruditos, religiosos, apontam esse fato como uma prova de que homens podem
perder-se facilmente sem o direcionamento do Único, entregando-se a estes
instintos pecaminosos. Existem relatos de que a prática do Carnis Valis foi
oficializada na velha Virka, durante o reinado de Bövrar II, corroborando com a
ideia de que ele era realmente um monarca corrupto. Mesmo com o direcionamento
que se seguiu à queda deste líder, boa parte do povo interessou-se pela
comemoração, já que ela era extremamente popular entre os camponeses. Era uma
noite em que reis e ladrões poderiam andar lado a lado sem que houvesse a
barreira da pirâmide social.
No
que dependesse do secto de Alec, o festival estaria banido para sempre do
calendário de Belregard, mas quando se governa um povo injustiçado, é preciso
abrir mão de certas coisas para que tudo se mantenha no status quo
agradável à monarquia. No período em que esteve proibido, houve uma forte
repressão a qualquer tentativa de realizar festividades neste período. Mesmo
casamentos e batizados eram vistos com suspeita, imaginando-se que escondiam a
semente selvagem das libações desenfreadas.
Em
985 as festividades voltaram a ser aceitas dentro de Belregard, isso onde Virka
ainda exerce alguma influência mais expressiva, já que em locais como Varning,
o costume jamais deixou de ser celebrado. É nesta castelania que as maiores
demonstrações de paixão são notadas. Pessoas fantasiam-se com motivos variados,
disfarçando-se como padres e nobres, ou usando cabeças de animais para cobrir
seus rostos e realizar os mais atrozes atos. É uma época perigosa, onde muitos se
aproveitam do caos festivo para realizar trabalhos imundos. Os cultos hereges
proliferam-se neste período e não é difícil encontrar cabalas realizando ritos
profanos à luz do dia, sob o disfarce da mera celebração.
No
Baronato de Rastov, Virka, Birman e Parlouma, o evento toma uma característica
bastante discreta, seguindo seu cunho religioso de renovação. As pessoas ainda
se fantasiam e vão às ruas celebrar a fartura, mas é uma comemoração muito mais
local, de modo que o centro de Virka pode estar em completo silêncio, enquanto
nobres e clérigos se reúnem em salões de festas para comemorar à sua maneira e
camponeses concentram-se em suas vilas fazendo o mesmo, sob o olhar, nem sempre
tão vigilantes, da igreja.
Já
em Varning, como dito anteriormente, a celebração lembra bastante o que era nos
dias de Bövrar II. Em Viha e Igslav é visto como um evento perigoso. Os nativos
destas castelanias eram bárbaros no momento em que tiveram contato com os
homens civilizados de Virka. Eles tinham por costume celebrar estes dias de uma
maneira completamente particular e no momento em que se libertaram da
exploração do Baronato, alguns homens de Viha tem o desejo de recuperar estes
rituais para não deixar sua herança morrer. Uma atitude perigosa que se repete,
em menor escala, dentro de Igslav. Tendo uma maior influência do Baronato, os
igslavos estão mais propensos a deixar estas tradições de lado, em nome da
civilidade.
Em
Braden o Carnis Valis segue com sua essência religiosa, mas devido ao constante
combate que este reino sofre com a negra Belghor, comemora-se a vida e honram-se
os mortos. Algumas encenações são executadas na rua, de graça para todo o povo,
retratando cenas lendárias do passado e do presente do reino, onde Braden
saiu-se vitoriosa. Dalanor, o reino sempre alegre, não poderia ser menos
propenso ao festejo. Apesar de entregarem-se facilmente a certas libertinagens,
o Carnis Valis está longe de ser tão pecaminoso quanto o de Varning.
O
que ocorre em Belghor neste período é um mistério, mas em vista do que aquele
povo negro é capaz de criar e produzir, é certo que nenhum olho iluminado pela
sabedoria do Criador merece vislumbrar tamanho culto à carne e ao pecado. Se em
Varning os homens vestem-se de animais, em Belghor o oposto deve ocorrer.
Muito interessante; Carnis Valis reforça ainda mais a bem trabalhada mitologia de Belregard. Meus parabéns!
ResponderExcluirSão esses detalhes que tornam o cenário palpável, muito bom mesmo J.
ResponderExcluirOpa, fico feliz que tenham apreciado esta representação cultural de Belregard.
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