Este post vem como uma prévia daquilo que tem sido escrito de forma sistemática e que pretende, num futuro próximo, resultar em um livro focado no cenário de Belregard. Trata-se de uma visão geral do continente sob o ponto de vista de uma ave que, supostamente, emprestou seu corpo a um trovador. Espero que apreciem.
PS - Estou pensando em criar algum material para levar na RPGCON desse ano, mas não sei exatamente o que, gostaria de ouvir sugestões. Se tiverem alguma, comentem a vontade aqui mesmo, ou por e-mail (jnsbmm@gmail.com).
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"Que nenhum dos sacerdotes me escute, mas
algumas vezes eu sonho com a ideia de trocar minha alma com a de uma ave. Não
por ter desejos nefastos e pecaminosos, nunca cheguei perto de um Selvagem, nem
mesmo daqueles que os cultuam, mas tenho uma visão pura da natureza. Falo da
natureza que o Único fez para nos servir e nos fascinar. Fico imaginando o quão
belo não é nosso mundo visto lá de cima. Fazer uma verdadeira viagem pelos céus
de Belregard, sobrevoando nosso continente do norte ao sul, do leste ao oeste".
- León, trovador de
Dalanor
Sentindo a brisa
congelante do norte vinda do mar bravio, avisto uma imensidão azul escura,
aterradora para qualquer olho habituado a segurança da terra. Ondas imensas
chocando-se contra paredões rochosos que não suportam o peso da eternidade, e
apresentam reentrâncias cumpridas, vales entre muralhas naturais. As montanhas
erguem-se orgulhosas e o manto branco que as cobre serve de alerta para
qualquer desavisado que pense naquele lugar como um lugar seguro. A morte
estreita no norte. Aguardando pacientemente cada um de nós. A neblina envolve
esta terra de mistérios, onde ainda podem existir os Selvagens a serem caçados
e punidos por suas transgressões, mas mesmo eles parecem pequenos, diante na
onipotência dos picos do norte.
Alguns pequenos focos
de fumaça deixam clara a presença do rude povo das montanhas, os vôgos, em suas precárias comunidades.
Ainda envolvidos em seus costumes bárbaros, lembrando que a civilização não é
capaz de agradar a todos, seguem uma vida pacata enquanto não perturbados pelas
religiosidades do homem civilizado. Só mais ao sul, depois de dias planando
naquela fria corrente de ar, é que sou capaz de avistar o brasão do Baronato, a
Águia Branca. Grandes construções de pedra e madeira encimadas pela coroa do
Criador surgem pelo vale abaixo. Apesar da certeza da vida naqueles planaltos
fortificados, as cidades do norte parecem abandonadas. Poucas pessoas saem às
ruas, preferindo a segurança e aconchego de seus lares, ou o relaxamento das
termas, tão abundantes e populares.
Abandonando as
planícies gélidas de Rastov, ergue-se diante de mim a Taiga Branca e então eu
mergulho num voou mais rente ao chão, cruzando troncos de árvores ancestrais e
poderosas. Imensos pinheiros salpicados com a neve, que não deixa de cair neste
lar de homens rudes e irresolutos, cobrem toda a borda das castelanias que
dividem este território. Uma terra de um mesmo povo, dividida em duas pela
influência de terceiros. Os vihs de
Viha, mantendo sua tradição ancestral, marcam a paisagem com imensas
construções de madeira, com tetos cônicos e adornos que lembram formas animais.
O estandarte do Lobo alerta a qualquer intruso de que esta terra não há lugar
para inocentes ovelhas.
Ao leste, antes que
se possa fugir em busca de uma brisa fresca, estão os irmãos dos vihs. Os igslavos incorporam a civilidade
trazida pelos homens do Baronato e estas transformações mostram-se marcadas em
sua paisagem. As construções de pedra abundam mesmo naquele clima tão frio, e
os adornos de madeira são deixados em segundo plano. Aqui eu avisto um
movimento maior, já que os igslavos estão mais propensos a batalhas de que seus
patronos. Eles anseiam pela conquista. A bandeira do Urso marca a sua tenacidade
e lealdade. Olho para o céu e percebo que aquelas nuvens escuras vão
sendo deixadas para trás.
Quando finalmente sou
tomado por uma lufada de ar brando, já posso ouvir os acordes daquele velho
bandolim de madeira. Abro minhas asas e deixo-me levar pelo vento, com um
sorriso no bico e satisfeito por estar alcançando terras melhores, mais suaves.
As florestas de Dalanor são uma visão grata, com aquele verde vivo cobrindo o
solo como um longo tapete macio. As terras do estandarte do Unicórnio são
cheias de magia e lenda, contadas e cantadas a gerações sem fim. Os dalanos sempre foram orgulhosos de sua
arte e o respeito pela natureza é muito grande, fato este que acaba fazendo-os
tornarem-se apreciados pelos rudes vihs. As construções, de pedra e madeira,
erguem-se em meio aquele tapete verde, visto do céu, sem ferir a paisagem. O
cuidado para casar o progresso com a natureza fez surgir o dito popular de que
“todos os dalanos vivem à sombra de sua própria árvore”.
A paz de Dalanor é
deixada de lado quando uma imensa torre de pedra desponta ao longe. Demoro
alguns poucos dias, mas finalmente a alcanço. Trata-se de Varning e, mesmo lá
to alto, tendo o céu azul como fundo, eu posso ouvir a turba descontrolada
embaixo. Como símbolo do progresso e vanguarda nos avanços da humanidade, o
estandarte do Salmão tremula em todos os pontos da cidade. A única grande
cidade em toda Belregard. Um testemunho vivo da capacidade humana, quando se
deixa levar pela ganância. Do porto partem navios pesqueiros e de comércio,
visando as castelanias capazes de receber alguma embarcação em seus portos
precários. O cheiro da Selvageria aflora ali, como quando se caminha em um
pasto e chuta-se esterco seco, não demora a voltar a feder.
Passado o caos de
Varning, sendo levado pelas correntes do mar e empurrado para o norte, avisto a
castelania de Virka e seu estandarte da Torre. O primeiro assentamento dos
homens saídos de Belghor. Hoje reduzido a uma reserva, que mantém a vida e o
relativo conforto do monarca e de sua corte. Pastagens até onde a vista
alcança, onde antes havia florestas como as de Dalanor. O impacto da força do
homem nesta região é, sem dúvida, o mais notório. Daqui eu vejo o leste e
novamente as montanhas despontam sem cumes congelados, mas enegrecidos, na medida
em que me afasto.
De um lado as
pradarias de Parlouma, onde se ergue o estandarte do Cavalo, pontilhadas de
corcéis selvagens e vinhedos abundantes. Pequenas propriedades de agricultores
levam suas vidas como se nenhuma guerra jamais houvesse ocorrido em Belregard.
Uma paz que começa a ser abalada, conforme as montanhas de Belghor tornam-se
mais negras. Daqui eu posso vê-las, e tremo só de pensar em estar lá, fazendo
sua sombra sobre este longínquo terreno de grama verde e prazer simples em
viver.
Birman também
desponta a leste de Virka, lar de fervorosos defensores da fé no Único, segundo
a visão do Puro Alec. Em seu terreno rochoso avisto pequenos bosques e aldeias
simples. Os grandes marcos no terreno ficam por conta das catedrais, sempre
imponentes e, até mesmo, assustadoras.
Aqui a vida é pacata e extremamente cautelosa. Os agentes do Tribunal do
Santo Ofício cuidam para que não aja qualquer sinal da Selvageria entre os seus
e esta busca pelo inimigo interno os torna cegos para o perigo que vem logo
adiante, de sua castelania irmã, em Braden.
Também encravada nas
montanhas, a fortaleza do Leão mistura-se com a paisagem em suas construções de
pedra. O vento que sopra aqui é mais brando, apesar de carregar uma estranha
mácula. Vejo homens armados, montados em cavalos imensos, patrulhando toda a
região com o medo em seus olhares. Medo que não os impede de continuar lutando,
na esperança de um melhor amanhã. São belghos, vihs, igslavos e dalanos unidos
na luta contra os maiores servos da Sombra viva, aquela cuja mera existência
ofende a memória do Criador.
Para além de Braden
fica a terra negra de Belghor. Diante do Passo de Morovan, o estreito caminho
entre as montanhas que cercam o vale, eu pouso numa das árvores secas. Os
corvos grasnam para mim, em um tom de evidente zombaria. A neblina é tão densa
quanto à do mar do norte, mas carrega junto algo de corrosivo. Eu não tenho
coragem de sobrevoar aquela negra terra, a mera visão do estandarte do Javali
já me deixa satisfeito com a experiência de provar o que há em Belregard.
A nobre ave que me
emprestou seu corpo não merece ser forçada a vislumbrar tamanha heresia.
NOOOOAASSAAA!! Eu pirei imaginei tudo certinho como se os olhos do pássaro fossem os meus!!
ResponderExcluirJ. Vc mandou bem pracas nesse texto e foi legal tbm que deu para conhecer as localidades de Belregard, PARABÉNS!!
Muito interessante...
ResponderExcluirEspero que logo saibamos mais sobre estas nobres terras, e sobre os segredos ocultos em Belghor.
Muito legal! Parabéns!!
ResponderExcluirObrigado, pessoal!
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