sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Visão Geral de Belregard

Este post vem como uma prévia daquilo que tem sido escrito de forma sistemática e que pretende, num futuro próximo, resultar em um livro focado no cenário de Belregard. Trata-se de uma visão geral do continente sob o ponto de vista de uma ave que, supostamente, emprestou seu corpo a um trovador. Espero que apreciem.

PS - Estou pensando em criar algum material para levar na RPGCON desse ano, mas não sei exatamente o que, gostaria de ouvir sugestões. Se tiverem alguma, comentem a vontade aqui mesmo, ou por e-mail (jnsbmm@gmail.com). 

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~



"Que nenhum dos sacerdotes me escute, mas algumas vezes eu sonho com a ideia de trocar minha alma com a de uma ave. Não por ter desejos nefastos e pecaminosos, nunca cheguei perto de um Selvagem, nem mesmo daqueles que os cultuam, mas tenho uma visão pura da natureza. Falo da natureza que o Único fez para nos servir e nos fascinar. Fico imaginando o quão belo não é nosso mundo visto lá de cima. Fazer uma verdadeira viagem pelos céus de Belregard, sobrevoando nosso continente do norte ao sul, do leste ao oeste".
- León, trovador de Dalanor






Sentindo a brisa congelante do norte vinda do mar bravio, avisto uma imensidão azul escura, aterradora para qualquer olho habituado a segurança da terra. Ondas imensas chocando-se contra paredões rochosos que não suportam o peso da eternidade, e apresentam reentrâncias cumpridas, vales entre muralhas naturais. As montanhas erguem-se orgulhosas e o manto branco que as cobre serve de alerta para qualquer desavisado que pense naquele lugar como um lugar seguro. A morte estreita no norte. Aguardando pacientemente cada um de nós. A neblina envolve esta terra de mistérios, onde ainda podem existir os Selvagens a serem caçados e punidos por suas transgressões, mas mesmo eles parecem pequenos, diante na onipotência dos picos do norte.

Alguns pequenos focos de fumaça deixam clara a presença do rude povo das montanhas, os vôgos, em suas precárias comunidades. Ainda envolvidos em seus costumes bárbaros, lembrando que a civilização não é capaz de agradar a todos, seguem uma vida pacata enquanto não perturbados pelas religiosidades do homem civilizado. Só mais ao sul, depois de dias planando naquela fria corrente de ar, é que sou capaz de avistar o brasão do Baronato, a Águia Branca. Grandes construções de pedra e madeira encimadas pela coroa do Criador surgem pelo vale abaixo. Apesar da certeza da vida naqueles planaltos fortificados, as cidades do norte parecem abandonadas. Poucas pessoas saem às ruas, preferindo a segurança e aconchego de seus lares, ou o relaxamento das termas, tão abundantes e populares.

Abandonando as planícies gélidas de Rastov, ergue-se diante de mim a Taiga Branca e então eu mergulho num voou mais rente ao chão, cruzando troncos de árvores ancestrais e poderosas. Imensos pinheiros salpicados com a neve, que não deixa de cair neste lar de homens rudes e irresolutos, cobrem toda a borda das castelanias que dividem este território. Uma terra de um mesmo povo, dividida em duas pela influência de terceiros. Os vihs de Viha, mantendo sua tradição ancestral, marcam a paisagem com imensas construções de madeira, com tetos cônicos e adornos que lembram formas animais. O estandarte do Lobo alerta a qualquer intruso de que esta terra não há lugar para inocentes ovelhas.

Ao leste, antes que se possa fugir em busca de uma brisa fresca, estão os irmãos dos vihs. Os igslavos incorporam a civilidade trazida pelos homens do Baronato e estas transformações mostram-se marcadas em sua paisagem. As construções de pedra abundam mesmo naquele clima tão frio, e os adornos de madeira são deixados em segundo plano. Aqui eu avisto um movimento maior, já que os igslavos estão mais propensos a batalhas de que seus patronos. Eles anseiam pela conquista. A bandeira do Urso marca a sua tenacidade e lealdade. Olho para o céu e percebo que aquelas nuvens escuras vão sendo deixadas para trás.

Quando finalmente sou tomado por uma lufada de ar brando, já posso ouvir os acordes daquele velho bandolim de madeira. Abro minhas asas e deixo-me levar pelo vento, com um sorriso no bico e satisfeito por estar alcançando terras melhores, mais suaves. As florestas de Dalanor são uma visão grata, com aquele verde vivo cobrindo o solo como um longo tapete macio. As terras do estandarte do Unicórnio são cheias de magia e lenda, contadas e cantadas a gerações sem fim. Os dalanos sempre foram orgulhosos de sua arte e o respeito pela natureza é muito grande, fato este que acaba fazendo-os tornarem-se apreciados pelos rudes vihs. As construções, de pedra e madeira, erguem-se em meio aquele tapete verde, visto do céu, sem ferir a paisagem. O cuidado para casar o progresso com a natureza fez surgir o dito popular de que “todos os dalanos vivem à sombra de sua própria árvore”.

A paz de Dalanor é deixada de lado quando uma imensa torre de pedra desponta ao longe. Demoro alguns poucos dias, mas finalmente a alcanço. Trata-se de Varning e, mesmo lá to alto, tendo o céu azul como fundo, eu posso ouvir a turba descontrolada embaixo. Como símbolo do progresso e vanguarda nos avanços da humanidade, o estandarte do Salmão tremula em todos os pontos da cidade. A única grande cidade em toda Belregard. Um testemunho vivo da capacidade humana, quando se deixa levar pela ganância. Do porto partem navios pesqueiros e de comércio, visando as castelanias capazes de receber alguma embarcação em seus portos precários. O cheiro da Selvageria aflora ali, como quando se caminha em um pasto e chuta-se esterco seco, não demora a voltar a feder.

Passado o caos de Varning, sendo levado pelas correntes do mar e empurrado para o norte, avisto a castelania de Virka e seu estandarte da Torre. O primeiro assentamento dos homens saídos de Belghor. Hoje reduzido a uma reserva, que mantém a vida e o relativo conforto do monarca e de sua corte. Pastagens até onde a vista alcança, onde antes havia florestas como as de Dalanor. O impacto da força do homem nesta região é, sem dúvida, o mais notório. Daqui eu vejo o leste e novamente as montanhas despontam sem cumes congelados, mas enegrecidos, na medida em que me afasto.

De um lado as pradarias de Parlouma, onde se ergue o estandarte do Cavalo, pontilhadas de corcéis selvagens e vinhedos abundantes. Pequenas propriedades de agricultores levam suas vidas como se nenhuma guerra jamais houvesse ocorrido em Belregard. Uma paz que começa a ser abalada, conforme as montanhas de Belghor tornam-se mais negras. Daqui eu posso vê-las, e tremo só de pensar em estar lá, fazendo sua sombra sobre este longínquo terreno de grama verde e prazer simples em viver.

Birman também desponta a leste de Virka, lar de fervorosos defensores da fé no Único, segundo a visão do Puro Alec. Em seu terreno rochoso avisto pequenos bosques e aldeias simples. Os grandes marcos no terreno ficam por conta das catedrais, sempre imponentes e, até mesmo, assustadoras.  Aqui a vida é pacata e extremamente cautelosa. Os agentes do Tribunal do Santo Ofício cuidam para que não aja qualquer sinal da Selvageria entre os seus e esta busca pelo inimigo interno os torna cegos para o perigo que vem logo adiante, de sua castelania irmã, em Braden.

Também encravada nas montanhas, a fortaleza do Leão mistura-se com a paisagem em suas construções de pedra. O vento que sopra aqui é mais brando, apesar de carregar uma estranha mácula. Vejo homens armados, montados em cavalos imensos, patrulhando toda a região com o medo em seus olhares. Medo que não os impede de continuar lutando, na esperança de um melhor amanhã. São belghos, vihs, igslavos e dalanos unidos na luta contra os maiores servos da Sombra viva, aquela cuja mera existência ofende a memória do Criador.

Para além de Braden fica a terra negra de Belghor. Diante do Passo de Morovan, o estreito caminho entre as montanhas que cercam o vale, eu pouso numa das árvores secas. Os corvos grasnam para mim, em um tom de evidente zombaria. A neblina é tão densa quanto à do mar do norte, mas carrega junto algo de corrosivo. Eu não tenho coragem de sobrevoar aquela negra terra, a mera visão do estandarte do Javali já me deixa satisfeito com a experiência de provar o que há em Belregard.

A nobre ave que me emprestou seu corpo não merece ser forçada a vislumbrar tamanha heresia.

4 comentários:

  1. NOOOOAASSAAA!! Eu pirei imaginei tudo certinho como se os olhos do pássaro fossem os meus!!
    J. Vc mandou bem pracas nesse texto e foi legal tbm que deu para conhecer as localidades de Belregard, PARABÉNS!!

    ResponderExcluir
  2. Muito interessante...

    Espero que logo saibamos mais sobre estas nobres terras, e sobre os segredos ocultos em Belghor.

    ResponderExcluir