quarta-feira, 30 de março de 2011

Conto - Provérbios

Saudações!

Mais uma vez venho com um posta atípico. Trata-se de um conto que eu escrevi a muito tempo e fez parte de uma coletânea de horror da REDE RPG chamada "Circo dos Horrores". Você pode baixar todo o livro em PDF lá no site deles. Eu aconselho. A proposta do livro era que autores escrevessem pequenas cenas de horror. Algo rápido, que servisse como inspiração para criação de outras cenas e histórias. Eu acho que atendeu bem ao propósito, já que os relatos, breves, deixam muitas perguntas no ar e isso é extremamente conveniente para quem deseja exercitar a criatividade. O outro conto meu, também mostrado lá, já foi postado aqui e é um pouco mais pesado em comparação ao que vem a seguir:

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Provérbios

            Ele nem mesmo viu a coisa, mas o som daquilo já foi o suficiente para fazer o coração do jovem bater em um ritmo primitivo, o ritmo que fala ao que há de mais irracional no ser humano, aquilo que o faz saber de imediato quem é caça e quem é caçador. Reconhecendo o seu lugar, Josh correu pelo mato molhado de orvalho, pensando apenas em sobreviver. Sabia que a coisa estava atrás dele, seguindo lentamente pelas sombras, espreitando a espera de um único vacilo.

            Não havia muito que fazer. Em sua histeria de pavor, Josh nem se lembrava mais em que direção havia estacionado o carro. Puxou a faca da bota e agachou-se atrás de pedras frias; tudo era frio naquele momento. Algumas folhas cumpridas de mato roçavam na pele do rapaz e aquilo lhe causava arrepios seguidos, além de sustos, vendo assombrações em cada canto dos olhos.
Arte de Alexandre BAR

            Por alguns segundos não se ouviu nada, apenas o vento arrastando o mato e fazendo-o dançar ao seu bel prazer. Os olhos do jovem arderam e ele parou de segurar as lágrimas, e não foi só de medo, mas sim por ver o rosto do avô em sua mente, desapontado com sua ação de ter aberto maldito casebre da fazenda. Passou a mão diante dos olhos, procurando recuperar a concentração... Mas já era tarde demais. O grito que irrompeu da garganta de Josh foi quase mudo, mas o suficiente para fazê-lo ferver e até mesmo sangrar.

            A coisa que ele soltou era completamente inumana, sem definição e sentido. A mente parecia rachar-se ao vislumbrar a criatura inimaginável. Algo que simplesmente não deveria existir, algo inominável. A psique frágil era incapaz de assimilá-lo da forma que realmente era e por isso repudiava, tentava fugir, tornando-o um mero animal acudido. Pior que isso, tornava-o um animal acudido e louco.

            Incapaz de encarar aquela quebra total de realidade, que reduzia tudo o que era normal ao pó, a faca foi usada. Segurando-a firmemente no cabo deu apenas dois golpes, um em cada olho, para poupar-se da visão do massacre que viria a seguir. Sua garganta ainda sangrava, por aquele grito de desespero, e a única coisa que ecoava naquela paródia de mente com uma mera fagulha de raciocínio era o provérbio do avô: "segredo melhor guardado é o que a ninguém é revelado". 

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